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terça-feira, 21 de abril de 2015

A exposição Água viva, de Shirley Paes Leme, no Museu Vale

Fernando Pessoa (16)
Reflexões artísticas da realidade
(resenha publicada na revista Dasartes)
A exposição Água viva, de Shirley Paes Leme, no Museu Vale
A exposição Água viva, de Shirley Paes Leme, no Museu Vale, promove uma reflexão que transfigura esteticamente a realidade em obra de arte.
Na primeira sala, grandes círculos de barro, feitos pelas paneleiras capixabas, flutuam como vitória-régias pelo chão, ao redor de um outro círculo maior, feito de ferro. Pelas paredes da sala, quatro telas brancas, com imagens sinuosas e frases flutuantes, feitas com o tanino que as paneleiras tingem o barro; imagens com cor de sangue e textura de terra, que recordam a água viva do mangue: “Sangue da natureza águas abundantes: estou falando da força do corpo nas águas do mundo”. Compondo um diálogo de textura e cor do barro-tanino com a oxidação do ferro, Shirley apresenta, logo na abertura de sua exposição, quatro elementos fundamentais de Vitória: a água, o mangue, o barro e o ferro.


Na sala grande do galpão, o chão está coberto por alumínio reflexivo e as paredes com frases da obra Água viva de Clarice Lispector – “O espelho como água dura”. Em formas de rizomas, as frases das paredes entram no espelho do chão, recordando as raízes nas águas dos mangues e igarapés, “raízes entranhadas na terra viva”.


E tal como as frases, também nós e as estruturas do galpão ficamos refletidos nessa água dura, e nos tornamos obra. No centro desta sala-instalação, uma grande porta de vidro, à esquerda, deixa entrar a vista do porto de Vitória, a imagem de um navio parado com as águas em movimento; a mesma imagem que Shirley reflete na parede do fundo do galpão, trazendo o porto que está fora para dentro do museu. Também o sol e o mar invadem a sala pelas janelas e portas de vidro para se refletirem no espelho do chão, inundando o ambiente de ondas e luz. Em sua instalação, Shirley Paes Leme, ao contrário de colocar uma obra dentro do espaço, faz do próprio espaço a sua obra: o homem, o galpão, o mangue, o porto, o sol, o mar são transfigurados esteticamente: toda a realidade se torna obra de arte.


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