Fernando Pessoa (16)
Reflexões artísticas da realidade(resenha publicada na revista Dasartes)
A exposição Água viva, de Shirley Paes Leme, no Museu Vale |
A exposição Água viva, de Shirley Paes Leme, no Museu Vale, promove uma reflexão que transfigura esteticamente a realidade em obra de arte.
Na primeira sala, grandes círculos
de barro, feitos pelas paneleiras capixabas, flutuam como vitória-régias pelo
chão, ao redor de um outro círculo maior, feito de ferro. Pelas paredes da
sala, quatro telas brancas, com imagens sinuosas e frases flutuantes, feitas
com o tanino que as paneleiras tingem o barro; imagens com cor de sangue e
textura de terra, que recordam a água viva do mangue: “Sangue da natureza águas
abundantes: estou falando da força do corpo nas águas do mundo”. Compondo um
diálogo de textura e cor do barro-tanino com a oxidação do ferro, Shirley
apresenta, logo na abertura de sua exposição, quatro elementos fundamentais de
Vitória: a água, o mangue, o barro e o ferro.
E tal
como as frases, também nós e as estruturas do galpão ficamos refletidos nessa
água dura, e nos tornamos obra. No centro desta sala-instalação, uma grande
porta de vidro, à esquerda, deixa entrar a vista do porto de Vitória, a imagem
de um navio parado com as águas em movimento; a mesma imagem que Shirley
reflete na parede do fundo do galpão, trazendo o porto que está fora para
dentro do museu. Também o sol e o mar invadem a sala pelas janelas e portas de
vidro para se refletirem no espelho do chão, inundando o ambiente de ondas e
luz. Em sua instalação, Shirley Paes Leme, ao contrário de colocar uma obra
dentro do espaço, faz do próprio espaço a sua obra: o homem, o galpão, o
mangue, o porto, o sol, o mar são transfigurados esteticamente: toda a
realidade se torna obra de arte.
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