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quarta-feira, 29 de julho de 2015
terça-feira, 28 de julho de 2015
Arte no pensamento de Nietzsche - Gilvan Fogel
Para Antônio Pedro
1. O
que é festa? Como? A pergunta é impertinente, fútil, supérflua. Pois, quem não
sabe o que é festa, uma festa?! Quem não sabe como é festa?! Festa é festa,
ora!
Mas a pergunta, na sua impertinência
e superfluidade, fica. Fica e traz outra consigo, igualmente impertinente,
igualmente fútil ou supérflua: O que são olhos?
O que é olho? Ver! E como ver? Um ver
que, talvez, seja só ver? Só ver?! Onde está o problema, qual a
dificuldade? Que mais se poderia querer ou esperar do olho, do ver?!
Arte como a festa, como o regozijo,
a alegria do só ver – e que alegria,
que festa é essa quando, sabe-se, na arte aflora também, talvez principalmente,
dor, mesmo sofrimento e quando ela, às vezes escancaradamente, revela o
grotesco? Arte, sendo alegria do ver, festa do aparecer e só do aparecer e do
ver, não deve ser coisa de bobo
alegre...!
Arte no pensamento - Françoise Dastur
ARTE NO PENSAMENTO*
Françoise Dastur**
Introdução
Considera-se habitualmente
que a tradição ocidental de pensamento encontra a sua origem na oposição entre muthos e lógos, que coincidiu com
o nascimento da filosofia em Platão, e está na origem do racionalismo moderno.
Com efeito, Platão é quem, ao mesmo tempo, dá à palavra philosophia o seu sentido forte de amor pela sabedoria e de busca
da verdade, e quem expulsa os poetas da sua Cidade ideal, por enxergar neles
produtores de simulacros, imitações muito distantes da verdade e,
conseqüentemente, enganosas. O gesto platônico consagra a separação da
imaginação e da razão, da arte e do pensamento. Isso explica por que, durante
muito tempo, na tradição ocidental, a arte ficou mantida em posição subordinada,
com relação à filosofia e às ciências.
A bem da verdade, vemos surgir, na
época das Luzes, uma nova disciplina, a estética, onde a arte retoma seu lugar
dentro da filosofia, como atesta a primeira parte da terceira Crítica de Kant. Entretanto, esta ciência
da sensibilidade, que é a estética, continua sendo uma teoria do sujeito
autônomo, na qual a arte permanece desprovida de qualquer valor de
conhecimento.
Apenas com o primeiro romantismo
alemão, e em especial com Schelling, um de seus integrantes, é que vemos surgir
a idéia de uma identidade e, assim, de uma igualdade de status, entre a arte e a filosofia. O que assim está sendo,
primordialmente, preparado, com a reavaliação da arte iniciada por Hegel,
dentro do que ele, no entanto, ainda chama de “Estética”, é uma crítica da
subjetivação da arte, que podemos ver se desenvolvendo na esteira do movimento
fenomenológico inaugurado por Husserl, de início com Heidegger, que define a
arte enquanto implementação da verdade e, a seguir, com Gadamer, que fundamenta
toda a sua interpretação da obra de arte na crítica da consciência estética. É
nesta mesma perspectiva que devemos situar a fenomenologia da arte de
Merleau-Ponty, da qual se pode dizer que põe fim à antiga antinomia platônica
entre arte e filosofia.
sábado, 25 de julho de 2015
Declaração
à Juliana Pessoa
O eterno ídolo - Rodin
Elegia: Indo para o leito - John Donne
Vem,
Dama, vem, que eu desafio a paz;
Até
que eu lute, em luta o corpo jaz.
Como
o inimigo diante do inimigo,
Canso-me
de esperar se nunca brigo.
Solta
esse cinto sideral que vela,
Céu
cintilante, uma área ainda mais bela.
Desata
esse corpete constelado,
Feito
para deter o olhar ousado.
Entrega-te
ao torpor que se derrama
De
ti a mim, dizendo: hora da cama.
Tira
o espartilho, quero descoberto
O
que ele guarda, quieto, tão de perto.
O
corpo que de tuas saias sai
É
um campo em flor quando a sombra se esvai.
Arranca
essa grinalda armada e deixa
Que
cresça o diadema da madeixa.
Tira
os sapatos e entra sem receio
Nesse
templo de amor que é o nosso leito.
Os
anjos mostram-se num branco véu
Aos
homens. Tu, meu anjo, és como o céu
De
Maomé. E se no branco têm contigo
Semelhança
os espíritos, distingo:
O
que o meu anjo branco põe não é
O
cabelo mas sim a carne em pé.
Deixa
que a minha mão errante adentre
Atrás,
na frente, em cima, em baixo, entre.
Minha
América! Minha terra à vista,
Reino
de paz, se um homem só a conquista,
Minha
mina preciosa, meu Império,
Feliz
de quem penetre o teu mistério!
Liberto-me
ficando teu escravo;
Onde
cai minha mão, meu selo gravo.
Nudez
total! Todo o prazer provém
De
um corpo (como a alma sem corpo) sem
Vestes.
As jóias que a mulher ostenta
São
como as bolas de ouro de Atalanta:
O
olho do tolo que uma gema inflama
Ilude-se
com ela e perde a dama.
Como
encadernação vistosa, feita
Para
iletrados, a mulher se enfeita;
Mas
ela é um livro místico e somente
A
alguns (a que tal graça se consente)
É
dado lê-la. Eu sou um que sabe;
Como
se diante da parteira, abre-
Te:
atira, sim, o linho branco fora,
Nem
penitência nem decência agora.
Para
ensinar-te eu me desnudo antes:
A
coberta de um homem te é bastante.
Tradução:
Augusto de Campos
quarta-feira, 22 de julho de 2015
quinta-feira, 16 de julho de 2015
Beija-flores
Fernando Pessoa
Fotografias: Clarice Pessoa
Não se admire se um dia
Um beija-flor invadir
A porta da tua casa
Te der um beijo e partir
Fui eu que mandei o beijo
Que é pra matar meu desejo
Faz tempo que eu não te vejo
Ai que saudade d'ocê
quarta-feira, 8 de julho de 2015
E o mundo continua calado
Chimamanda Ngozi Adichie nasceu na Nigéria, em 1977. Dentre os seus diversos escritos, o livro "Meio sol amarelo" faz um relato da guerra de secessão da Nigéria, contando a história da frustrada tentativa de criação da República de Biafra. Com uma narrativa romanceada, entremeada no emocionante enredo de seus personagens, Chimamanda conta as atrocidades daquele genocídio: "O mundo estava calado quando nós morremos". (E hoje, a história se repete: "4.000 pessoas morreram em recente ataque do Boko Haran", e o mundo continua calado...)