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terça-feira, 28 de julho de 2015

Arte no pensamento de Nietzsche - Gilvan Fogel

Arte: uma festa para os olhos!?
(Ou, no caso: ser pintor)*

Gilvan Fogel**

                                                                                                                 
Para Antônio Pedro


           
1. O que é festa? Como? A pergunta é impertinente, fútil, supérflua. Pois, quem não sabe o que é festa, uma festa?! Quem não sabe como é festa?! Festa é festa, ora!

            Mas a pergunta, na sua impertinência e superfluidade, fica. Fica e traz outra consigo, igualmente impertinente, igualmente fútil ou supérflua: O que são olhos? O que é olho? Ver! E como ver? Um ver que, talvez, seja ver? ver?! Onde está o problema, qual a dificuldade? Que mais se poderia querer ou esperar do olho, do ver?!
            Arte como a festa, como o regozijo, a alegria do ver – e que alegria, que festa é essa quando, sabe-se, na arte aflora também, talvez principalmente, dor, mesmo sofrimento e quando ela, às vezes escancaradamente, revela o grotesco? Arte, sendo alegria do ver, festa do aparecer e só do aparecer e do ver, não deve ser coisa de bobo alegre...!

Arte no pensamento - Françoise Dastur

ARTE NO PENSAMENTO*

Françoise Dastur**


Introdução

            Considera-se habitualmente que a tradição ocidental de pensamento encontra a sua origem na oposição entre muthos e lógos, que coincidiu com o nascimento da filosofia em Platão, e está na origem do racionalismo moderno. Com efeito, Platão é quem, ao mesmo tempo, dá à palavra philosophia o seu sentido forte de amor pela sabedoria e de busca da verdade, e quem expulsa os poetas da sua Cidade ideal, por enxergar neles produtores de simulacros, imitações muito distantes da verdade e, conseqüentemente, enganosas. O gesto platônico consagra a separação da imaginação e da razão, da arte e do pensamento. Isso explica por que, durante muito tempo, na tradição ocidental, a arte ficou mantida em posição subordinada, com relação à filosofia e às ciências.
A bem da verdade, vemos surgir, na época das Luzes, uma nova disciplina, a estética, onde a arte retoma seu lugar dentro da filosofia, como atesta a primeira parte da terceira Crítica de Kant. Entretanto, esta ciência da sensibilidade, que é a estética, continua sendo uma teoria do sujeito autônomo, na qual a arte permanece desprovida de qualquer valor de conhecimento.
Apenas com o primeiro romantismo alemão, e em especial com Schelling, um de seus integrantes, é que vemos surgir a idéia de uma identidade e, assim, de uma igualdade de status, entre a arte e a filosofia. O que assim está sendo, primordialmente, preparado, com a reavaliação da arte iniciada por Hegel, dentro do que ele, no entanto, ainda chama de “Estética”, é uma crítica da subjetivação da arte, que podemos ver se desenvolvendo na esteira do movimento fenomenológico inaugurado por Husserl, de início com Heidegger, que define a arte enquanto implementação da verdade e, a seguir, com Gadamer, que fundamenta toda a sua interpretação da obra de arte na crítica da consciência estética. É nesta mesma perspectiva que devemos situar a fenomenologia da arte de Merleau-Ponty, da qual se pode dizer que põe fim à antiga antinomia platônica entre arte e filosofia. 

sábado, 25 de julho de 2015

Declaração

à Juliana Pessoa

O eterno ídolo - Rodin

Elegia: Indo para o leito - John Donne

Vem, Dama, vem, que eu desafio a paz;
Até que eu lute, em luta o corpo jaz.
Como o inimigo diante do inimigo,
Canso-me de esperar se nunca brigo.
Solta esse cinto sideral que vela,
Céu cintilante, uma área ainda mais bela.
Desata esse corpete constelado,
Feito para deter o olhar ousado.
Entrega-te ao torpor que se derrama
De ti a mim, dizendo: hora da cama.
Tira o espartilho, quero descoberto
O que ele guarda, quieto, tão de perto.
O corpo que de tuas saias sai
É um campo em flor quando a sombra se esvai.
Arranca essa grinalda armada e deixa
Que cresça o diadema da madeixa.
Tira os sapatos e entra sem receio
Nesse templo de amor que é o nosso leito.
Os anjos mostram-se num branco véu
Aos homens. Tu, meu anjo, és como o céu
De Maomé. E se no branco têm contigo
Semelhança os espíritos, distingo:
O que o meu anjo branco põe não é
O cabelo mas sim a carne em pé.
Deixa que a minha mão errante adentre
Atrás, na frente, em cima, em baixo, entre.
Minha América! Minha terra à vista,
Reino de paz, se um homem só a conquista,
Minha mina preciosa, meu Império,
Feliz de quem penetre o teu mistério!
Liberto-me ficando teu escravo;
Onde cai minha mão, meu selo gravo.
Nudez total! Todo o prazer provém
De um corpo (como a alma sem corpo) sem
Vestes. As jóias que a mulher ostenta
São como as bolas de ouro de Atalanta:
O olho do tolo que uma gema inflama
Ilude-se com ela e perde a dama.
Como encadernação vistosa, feita
Para iletrados, a mulher se enfeita;
Mas ela é um livro místico e somente
A alguns (a que tal graça se consente)
É dado lê-la. Eu sou um que sabe;
Como se diante da parteira, abre-
Te: atira, sim, o linho branco fora,
Nem penitência nem decência agora.
Para ensinar-te eu me desnudo antes:
A coberta de um homem te é bastante.

Tradução: Augusto de Campos

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Fernando Pessoa


Leve, leve, muito leve,
Um vento muito leve passa,
e vai-se, sempre muito leve.
E eu não sei o que penso
Nem procuro sabê-lo.

Alberto Caeiro



quinta-feira, 16 de julho de 2015

Beija-flores

Fernando Pessoa
Fotografias: Clarice Pessoa


Não se admire se um dia
Um beija-flor invadir
A porta da tua casa
Te der um beijo e partir
Fui eu que mandei o beijo
Que é pra matar meu desejo
Faz tempo que eu não te vejo
Ai que saudade d'ocê

quarta-feira, 8 de julho de 2015

E o mundo continua calado


Chimamanda Ngozi Adichie nasceu na Nigéria, em 1977. Dentre os seus diversos escritos, o livro "Meio sol amarelo" faz um relato da guerra de secessão da Nigéria, contando a história da frustrada tentativa de criação da República de Biafra. Com uma narrativa romanceada, entremeada no emocionante enredo de seus personagens, Chimamanda conta as atrocidades daquele genocídio: "O mundo estava calado quando nós morremos". (E hoje, a história se repete: "4.000 pessoas morreram em recente ataque do Boko Haran", e o mundo continua calado...)