Rodin. São João Batista. |
Uma manhã,
batem na porta do ateliê; vejo entrar um italiano acompanhado por um de seus
compatriotas, que já havia posado para mim. Era um camponês, de Abruzzes,
distante da cidade de seu país natal, e que veio se propor como modelo. Ao
vê-lo, fui tomado de admiração; este
homem rude, hirsuto, exprimia em seu modo de andar, em sua força física, toda a
violência, mas também toda a característica mística de sua raça.
Pensei,
imediatamente, em um São
João Batista, quer dizer, um homem da natureza, um iluminado,
alguém que acredita; um precursor que veio anunciar alguém maior do que ele. O
camponês se despiu, subiu na mesa giratória como se não tivesse jamais posado;
ele se instala, a cabeça levantada, o dorso reto, sustentando-se sobre as duas
pernas abertas como um compasso.
O movimento estava tão justo, tão
caracterizado e tão verdadeiro que eu exclamei: “Mas é um homem que caminha!” Resolvi imediatamente fazer o que eu havia
visto. Tinha-se o hábito, quando se examinava um modelo, de lhe dizer:
“caminhe”, quer dizer, de lhe fazer transportar todo o equilíbrio do corpo
sobre uma única perna; acreditava-se assim encontrar movimentos mais
harmoniosos, mais elegantes, a fim de proporcionar o que chamam de “expressão”.
Só de pensar em colocar o equilíbrio de uma figura sobre as duas pernas parecia
uma falta de gosto, um ultraje às tradições, quase uma heresia. Eu já estava decidido, obstinado. Eu só
pensava que não poderia haver falhas; pois se não traduzisse a minha impressão
tão exatamente quanto a havia recebido, minha estátua seria ridícula e todos me
ridicularizariam. Eu me prometi então o
modelar com toda a minha vontade. É assim que fiz sucessivamente O homem que caminha e o São João Batista. Eu fiz apenas copiar o modelo que o acaso havia me enviado.
Rodin. O homem que caminha. |
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