quarta-feira, 22 de abril de 2015

A exposição de Paulo Mendes da Rocha no Museu Vale

Fernando Pessoa (17)

“O monumental confronto natureza e construção”
(resenha publicada na revista Dasartes)


A exposição de Paulo Mendes da Rocha no Museu Vale é uma aula de arquitetura, no sentido de mostrar o elemento mais arcaico e fundamental da construção arquitetônica: a transformação da natureza em habitação – ou, nas palavras do mestre, “a deliciosa transformação do lugar inóspito em lugar habitável”

A exposição de Paulo Mendes da Rocha no Museu Vale é uma aula de arquitetura, no sentido de mostrar o elemento mais arcaico e fundamental da construção arquitetônica: a transformação da natureza em habitação – ou, nas palavras do mestre, “a deliciosa transformação do lugar inóspito em lugar habitável”: “Fui formado com a certeza de que os homens transformam uma beleza original – a natureza – em virtudes desejadas e necessárias para que a vida se instale nos recintos urbanos. Uma ideia de natureza não contemplativa, pois que se revela e coincide com os projetos que se têm em mente de habitações, estradas, cais de encostamento de embarcações. Quando o homem olha a natureza, já a vê como parte de seu projeto, das transformações que fará.”



Com o título “A natureza como projeto”, a maior retrospectiva do trabalho desse premiado arquiteto mostra como a arquitetura compõe os elementos da natureza, constituindo lugares que formam o espaço. Ao contrário de uma substância já dada, pronta e acabada, a extensão geométrica das três dimensões, Paulo Mendes da Rocha compreende que o espaço é construído pelo homem, a partir da articulação integrada de seus elementos naturais: “A visão de Paulo Mendes da Rocha sobre arquitetura é fortemente lastreada pela noção de território, em que a construção adquire a dimensão física e simbólica da paisagem, como uma natureza transformada” – escreve Guilherme Wisnik, o curador da exposição, em seu texto de apresentação.


Na primeira sala da exposição, um vídeo mostra o arquiteto ensinando como as construções precisam nascer da composição entre necessidade e desejo. A arquitetura deve obedecer às condições que a natureza oferece, saber interpretar as suas demandas, construindo o que complementa e viabiliza o que já é natural. Um exemplo disso é para ele a cidade de Veneza, que, por sua localização estratégica, foi construída pela técnica para que o comércio marítimo pudesse se aproximar o máximo possível da Europa continental. 


Outro exemplo é o seu projeto de ligar a Bacia Amazônica com a Bacia do Prata, formando um grande sistema hidroviário que integraria o interior do continente sul-americano. Ao contrário da imposição de um arbítrio humano, Paulo Mendes da Rocha mostra como as construções arquiteto-urbanistas precisam respeitar as condições que a natureza oferece, evidenciando as suas potências.



Após o vídeo da primeira sala, onde Paulo Mendes da Rocha sentado em seu escritório expõe as suas ideias de arquitetura, podemos então conhecer vários de seus trabalhos em dois painéis que, dispostos paralelamente no centro do galpão, apresentam, de um lado, os projetos e, do outro, as obras já construídas – e no fundo do galpão, um filme com imagens de suas obras. Tudo muito simples, claro, didático e contundente. A exposição “A natureza como projeto” nos ensina a possibilidade de uma arquitetura que articula e deixa transparecer o próprio projeto da natureza.



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