Fernando Pessoa (17)
(resenha publicada na revista Dasartes)
A
exposição de Paulo Mendes da Rocha no Museu Vale é uma aula de arquitetura, no
sentido de mostrar o elemento mais arcaico e fundamental da construção
arquitetônica: a transformação da natureza em habitação – ou, nas palavras do
mestre, “a deliciosa transformação do lugar inóspito em lugar habitável”
A
exposição de Paulo Mendes da Rocha no Museu Vale é uma aula de arquitetura, no
sentido de mostrar o elemento mais arcaico e fundamental da construção
arquitetônica: a transformação da natureza em habitação – ou, nas palavras do
mestre, “a deliciosa transformação do lugar inóspito em lugar habitável”: “Fui
formado com a certeza de que os homens transformam uma beleza original – a
natureza – em virtudes desejadas e necessárias para que a vida se instale nos
recintos urbanos. Uma ideia de natureza não contemplativa, pois que se revela e
coincide com os projetos que se têm em mente de habitações, estradas, cais de
encostamento de embarcações. Quando o homem olha a natureza, já a vê como parte
de seu projeto, das transformações que fará.”
Com
o título “A natureza como projeto”, a maior retrospectiva do trabalho desse
premiado arquiteto mostra como a arquitetura compõe os elementos da natureza,
constituindo lugares que formam o espaço. Ao contrário de uma substância já
dada, pronta e acabada, a extensão geométrica das três dimensões, Paulo Mendes
da Rocha compreende que o espaço é construído pelo homem, a partir da
articulação integrada de seus elementos naturais: “A visão de Paulo Mendes da
Rocha sobre arquitetura é fortemente lastreada pela noção de território, em que
a construção adquire a dimensão física e simbólica da paisagem, como uma
natureza transformada” – escreve Guilherme Wisnik, o curador da exposição, em
seu texto de apresentação.
Na
primeira sala da exposição, um vídeo mostra o arquiteto ensinando como as
construções precisam nascer da composição entre necessidade e desejo. A
arquitetura deve obedecer às condições que a natureza oferece, saber interpretar
as suas demandas, construindo o que complementa e viabiliza o que já é natural.
Um exemplo disso é para ele a cidade de Veneza, que, por sua localização
estratégica, foi construída pela técnica para que o comércio marítimo pudesse
se aproximar o máximo possível da Europa continental.
Outro exemplo é o seu
projeto de ligar a Bacia Amazônica com a Bacia do Prata, formando um grande
sistema hidroviário que integraria o interior do continente sul-americano. Ao
contrário da imposição de um arbítrio humano, Paulo Mendes da Rocha mostra como
as construções arquiteto-urbanistas precisam respeitar as condições que a
natureza oferece, evidenciando as suas potências.
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