VI
Congresso Internacional de Filosofia da Psicanálise e
X
Simpósio de Filosofia e Psicanálise: Tempos
de guerras atuais
O
mito e a concepção de orixá no candomblé
Juliana Pessoa
Em seu texto “Para quê poetas?”, escrito no ano de 1946,
Heidegger nos alerta para o fenômeno da fuga
dos deuses, que ameaça arrancar o fundamento do mundo e apagar a sua
história. De acordo com o filósofo, essa fuga da divindade não significa que
nós perdemos nossa capacidade de estabelecer alguma relação possível com os
deuses e professar uma determinada religião. Esse fenômeno não é da ordem
religiosa, mas ontológica, isto é, se relaciona com o modo como o homem compreende
a verdade e, consequentemente, concebe o que é real. De uma maneira geral,
nossa época não reconhece mais os deuses como o fundamento da realidade; e
mais, segundo Heidegger, já estamos praticamente nos tornando incapazes de
sentir essa ausência do sagrado como uma falta. Essa incapacidade é o principal
índice da positividade de nosso esquecimento.
A ameaça que nos aflige mediante essa falta se dá,
sobretudo, porque quando a divindade deixa de ser o fundamento, o homem passa a
tomar a si mesmo como medida das coisas, compreendendo-se como senhor e dono da
natureza, como afirmou Descartes. É essa compreensão a base de toda
modernidade, que anuncia o advento da autocerteza
do homem, sustentada pela ciência. Os institutos de ciência e tecnologia se
tornam, assim, os novos bastiões da verdade, assumindo para si a tarefa de
proferir a certeza do conteúdo da vida,
por meio da elaboração de uma teoria do
real.
Essa certeza deriva do fato de a ciência, de acordo com
Heidegger, se ocupar exclusivamente com os entes, as coisas “reais”, isso que
está aí diante dos olhos, disponível, à mão. Isso significa que nossa época
toma como verdade exclusivamente o que das coisas pode ser calculado,
contabilizado, investigado, de modo que todos os processos naturais precisam se
tornar grandezas numéricas, para não apenas poderem ser descritos e
representados com exatidão, como também poderem atender a alguma funcionalidade
técnica. Para o filósofo, mediante a fuga dos deuses, cada vez mais depressa,
cada vez de maneira mais abusiva e completamente, o fundamento de nossa
existência vai sendo ocupado pelo domínio técnico da terra. Assim tanto a coisidade das coisas, quanto a nossa
humanidade são dissolvidas em um valor calculável no mercado mundial.
Em nome de nossa vontade de verdade e dominação, nos
tornamos meros funcionários da técnica a serviço do capital, experimentando, em
vida, segundo Heidegger, a indigência de nossa essência humana. Por crermos,
assim, tão cegamente, na opinião segundo a qual o progresso
científico-tecnológico e o desenvolvimento da economia põem o mundo em ordem,
mal podemos sentir a ausência do sagrado como efetivamente uma falta em nossas
vidas. Para o filósofo, a indigência dessa nossa condição é mais grave do que a
tão falada bomba atômica. Afinal, só é possível “inventar” algo assim
tão hediondo, capaz de aniquilar a vida na terra, mediante a total ausência dos
deuses, com o império e a dominação dos homens. No entanto, essa constatação,
nos assevera Heidegger, não expressa um pessimismo
cultural, muito menos, obviamente, um otimismo. O fenômeno da fuga dos deuses, que ameaça o fundamento do mundo e a sua própria existência,
é demasiado grave, que tais categorias, como pessimismo e otimismo, de há muito
se tornaram pueris, ingênuas (Cf HEIDEGGER, Martin. Introdução à metafísica, p. 65).
Estamos tão comprometidos com os desígnios da
modernidade, iludidos com sua promessa de um progresso incondicional, que
apenas tomamos como verdade o que a ciência afirma como tal. Nós nos sentimos tão
orgulhosos com o nível de esclarecimento alcançado em nosso tempo e projetamos
um futuro tão fabuloso (em Marte ou Plutão), que nos esquecemos completamente
da época sagrada das origens, quando poetas cantavam para nós a memória do
mundo. Um cantar que nos falava do nascimento dos deuses e de seus grandes
feitos para criar o ar, a água, a terra, o fogo, os seres vivos; e que, com
isso, não apenas aprendíamos sobre tudo o que há no mundo, como principalmente
sobre como esse todo é irmanado, à medida que compartilha a mesma origem divina.
De modo que, no passado, graças aos poetas, os homens mantinham viva a memória
da divindade e, assim, aprendiam a reconhecer tanto na natureza, como neles
próprios os seus vestígios. Contudo, já estamos bem distantes da grande época
da poesia. Mal nos damos conta de que a falta da divindade, assim como nos esquecemos
que a poesia já foi a única interpretação verdadeira da realidade. De modo que
nem estranhamos a indigência que nos ameaça.
Como consequência desse esquecimento, quando nos
perguntamos “para quê poetas em tempo
indigente?”, a resposta que, de imediato, nos vem à cabeça é, sem dúvida,
para nada. À primeira vista, parece que Heidegger está concordando com Adorno,
quando este afirmou que era impossível fazer poesia depois de Auschwitz, como
se, para nós, modernos, a poesia tivesse se tornado algo obsoleto, e estivesse,
irreversivelmente, condenada a ser uma coisa do passado, para a qual o homem
tornou-se incapaz. Essa opinião apressada se deve ao fato de que, graças ao
esquecimento da grande época das origens e a perda do estatuto de verdade da
poesia, essa passou a ser vista como uma simples atividade de escrever versos; algo
ligado à cultura, cuja finalidade é tanto promover a nossa erudição e o
refinamento de nossa sensibilidade, quanto nos entreter em nossos momentos de
ócio. Desse modo, seria muito mais lógico, para nós, se Heidegger visse nos
cientistas, e não nos poetas, a possibilidade de uma superação dessa indigência
que ele nos alerta.
Tal opinião a respeito da poesia deriva, principalmente,
do modo como a tradição filosófica (que é o berço da ciência) sempre tratou
esse tema. Incialmente, com Platão, o primeiro filósofo a criticar e rejeitar a
poesia como uma interpretação verdadeira da realidade, aprendemos que os poetas
estão afastados três graus da verdade. Para Platão, no primeiro nível da
verdade está o filósofo, que contempla as ideias; em segundo lugar, estariam
todas as demais técnicas que produzem uma cópia da própria ideia; e, por sua
vez, em terceiro lugar, estariam os poetas, que apenas copiam essas cópias, sem
terem acesso às ideias. Só que, apesar disso, eles nos iludem com uma aparência
de verdade, constituindo-se, desse modo, como uma ameaça tão nociva à formação
do homem, que Platão chegou ao ponto de bani-los de sua república.
Para consolidar esse esquecimento da poesia como o
fundamento do mundo, legado pelo platonismo, Kant, na construção de seu sistema
crítico, concebe que a poesia e a arte, de um modo geral, estão restritas à emoção estética ou sentimento do belo,
não possuindo, desse modo, nenhuma participação direta com a verdade. Pelo
contrário, a relação da poesia com a verdade é de subordinação. No máximo, ela
nos dá muito a pensar, sem, contudo, nos levar a compreender nada, de fato. Consequentemente,
foi se consolidando a opinião corrente segundo a qual a poesia é da ordem das
coisas frívolas e inúteis, uma atividade inventada pelo homem para nos entreter
em nossas horas vagas, quando já cumprimos todas as obrigações sérias que a
vida nos impõe. De modo que, para a opinião corrente, o caráter de verdade
atribuído pelos antigos à poesia se deve à sua incipiente estrutura racional.
Acreditamos, com uma fé cega, que nossa sociedade atual representa o suprassumo
da evolução humana, que tomamos as civilizações do passado, inclusive a grega,
como uma tenra infância da humanidade. Como se eles ainda não tivessem tomado
consciência da verdade, não tivessem despertado para a racionalidade por trás
de todos os fenômenos e, por isso, para explicarem o mundo precisam recorrer
aos mitos. De modo que hoje somos mais inteligentes, mais lúcidos, mais livres
do que nossos antepassados, enfim, nossas capacidades humanas são muito mais
elevadas e desenvolvidas para ainda acreditarmos nos mitos sobre deuses e
heróis inventadas por poetas para explicar a origem do mundo. Essas formulações
confusas, que apelam para uma dimensão inefável, oculta, misteriosa, sagrada,
divina do real já não satisfazem nossa vontade de verdade. Tudo isso soa nos
dias atuais como um tipo de vida atrasado, primitivo, irracional – coisa do
passado.
Nossa vontade de verdade, sustentada pela ciência, quer
poder dominar e assegurar o que é “real”, de modo a torna-lo fato, fórmula,
recurso natural. Diante dessa vontade, tudo para poder ganhar o estatuto de
verdade precisa já ter sido constatado, representado, calculado, isto é,
comprovado cientificamente. Assim, o que não pode ser apreendido por seus
aparelhos, no interior de seus laboratórios, na averiguação de suas pesquisas,
não tem estatuto de verdade, logo não existe. Nesse sentido, desde a ótica da
ciência, o mundo é uma armação previamente planejada. Ou melhor, é como se isso
que o mundo é derivasse do que a ciência vê, constata e afirma; de modo que não
há na lucidez dessa imagem nenhum vestígio para o incognoscível, o misterioso,
o oculto, o divino, o sagrado, nem tampouco para a criação poética. E ainda se
faz necessário afirmar que tamanho ímpeto de projetar uma teoria do real não é algo gratuito, mas se presta a tornar o mundo
disponível para o domínio da técnica e do capital, a fim submetê-lo ao ímpeto
incondicionado da produção e do mercado.
Desse modo, de acordo com Heidegger, o império e a
dominação dessa ótica ameaçam arrancar o mundo de seu fundamento, aniquilando
tanto a humanidade do homem, quanto a coisidade
das coisas, à medida que não pensa e, inclusive, impede de pensar o sentido
originário do mundo, de nossa existência, das coisas. Pois esse sentido
originário representa uma ameaça à vontade de dominação da ciência, à medida
que é uma contraposição à positividade de sua certeza. Por isso a sua pressa em
desprezar tudo que difere de seu modo de ver como irreal, primitivo,
charlatanismo. Sem dúvida, as proposições científicas possuem o seu mérito, mas
não devem ser tomadas como verdades absolutas, nem podem determinar os rumos de
nossa história, como é o caso desde há muito, sob o risco de vermos consumado o
que ainda para nós vigora apenas como uma ameaça.
Para Heidegger, precisamos superar essa postura ingênua,
que acredita que o pequeno eu de algum
homem individual poderia calcular o
critério da realidade do real. É nesse sentido que o filósofo compreende a
resposta para a questão, para quê poetas
em tempo indigente? Para que eles possam cantar, mais uma vez, a memória do
mundo, nos fazendo recordar o seu fundamento e, assim, indicar o caminho para a
superação de nossa indigência. Heidegger vai buscar a origem divina da poesia
grega, como canto das Musas, para mostrar como ela promove uma compreensão da
realidade muito mais apropriada do que a ciência é capaz de fazer, porque se
funda em algo muito mais ontológico do que qualquer teoria do real, a saber, no mito.
Para o filósofo, o mito é a saga, isto é, a fala
essencialmente primordial, que provém da essência da própria alethea. Apesar de, quase de imediato,
compreendermos alethea como verdade,
Heidegger faz questão de traduzir o termo grego alethea como desvelamento, a fim de ressaltar o acontecimento
fundante por trás dessa palavra. Desse modo, o mito é a fala cuja essência se
funda no fenômeno do desvelamento; por isso mito é também “a palavra grega que
expressa o que pode ser dito antes de tudo o mais” (HEIDEGGER, Martin. Parmênides, p. 92). Isso porque seu
dizer revela, descobre e deixa ser visto
isso que está presente em tudo que aparece e nasce, a saber, o oculto vestígio
do sagrado.
Desse modo, em sua palavra, o mundo pode renascer, à
medida que ela guarda a memória de sua proveniência. Para Heidegger, nossa
indigência é fruto do esquecimento dessa origem e por isso precisamos de poetas,
que guardam essa memória viva em seu cantar. Contudo, sem dúvida, essa memória
que os poetas guardam não é a lembrança de algum fato vivido. A memória poética
se dá por meio da possessão das Musas, que narram ao poeta tudo o que foi, tudo o que é, tudo o que será. É por meio dessa
possessão ou loucura divina que o poeta conhece a origem do mundo, o nascimento
dos deuses, a criação da humanidade e a misteriosa comunhão da vida na terra.
Desse modo, não é o poeta quem inventa o mito – a história que narra a saga das
origens – mas ele é o seu guardião e porta-voz. Daí deriva a máxima importância
e reverência que o povo grego concedia à poesia: quem conhece o mito não apenas
conhece a origem das coisas, como também é capaz de se impregnar de seu poder
sagrado e ancestral. A poesia abre ao homem grego uma via de acesso para o tempo forte das origens, quando algo de
novo e pleno de sentido quis se fazer presente e manifesto. Assim, graças aos
seus poetas, aquele povo podia não apenas conviver com os seus deuses, como
também participar do espetáculo da criação do mundo. A verdade poética, desse
modo, é de uma ordem bem diferente da verdade científica, pois ao contrário de
buscar representar o mundo, o poeta quer nos transportar para a sua origem e,
assim, nos tornar não apenas coautores de sua criação, como também guardiões de
sua história, de seu destino.
A verdade, como desvelamento, jamais busca encerrar o
mundo na determinação de uma certeza, que elucide e solucione isso que o mundo
é; de modo a nos dispensar de ter que pensar por nós mesmos o seu ser. Como o
velamento é constitutivo de todo aparecer e como tudo que aparece tende a se
velar, precisamos desenvolver certa habilidade poética e aprender que a vida não é só isso que se vê, é um
pouco mais. Enquanto que, por sua vez, a verdade, como certeza, nos impede
de descobrir o secreto começo das coisas, à medida que, no seu afã por ordem e
progresso, transforma o mundo em uma massa opaca de objetos reunidos ao acaso, uma
coisa vazia e indiferente – vida a fingir.
Todo esse longo percurso foi necessário para que
pudéssemos restituir o sentido ontológico da palavra mito, e assim o assunto
dessa comunicação, a concepção do sagrado, desde a perspectiva do candomblé,
não pudesse ser visto como uma curiosidade pelo exótico. Isso porque já se faz
urgente a necessidade de reconhecermos a riqueza e a grandeza do pensamento dos
povos africanos, nesse caso, em particular, falamos dos nagôs, e, assim, poder
aprender a visão de mundo, guardada em seus mitos. A urgência desse
reconhecimento não se dá apenas devido a um ajuste de contas com o nosso
próprio passado, apesar de isso, por si só, já valer como justificativa. É
urgente reconhecer a validade desse pensamento, que ainda vigora nos terreiros
de norte a sul do país, para que possamos, quem sabe, nos lembrar do fundamento
do mundo e, assim, superar a dominação da ciência e do capital, que nos ameaça com
sua indigência. A superação dessa indigência corresponde à compreensão de que a vida não é só isso que se vê, mas
que isso que não se pode ver é a fonte originária de tudo que aparece, nasce e
vive.
Podemos perceber vários elementos comuns entre a
religiosidade de matriz africana praticada hoje e a grega arcaica, assim como a
de tantos outros povos; como bem nos mostram vários estudiosos de mitologia.
Contudo, antes de buscar a explicação para esse fenômeno em alguma estrutura
psicológica ou biológica que condiciona o comportamento do homem primitivo,
devido à precariedade de seu intelecto, deveríamos perceber que a semelhança
provém justamente de que esses povos não tomam o homem como a medida de todas
as coisas, e, portanto, essa visão de mundo se funda no modo como a natureza e
seus fenômenos, como nascimento e morte, dia e noite, a água e a chuva, a terra
e o rio, o ar e a tempestade (etc.) mostram os vestígios do sagrado e podem
ensinar sobre o misterioso milagre da vida, que é dádiva dos deuses.
Desse modo, os orixás, as divindades do panteão nagô, não
são apenas imagem e semelhança do homem, no sentido de serem seres
antropomorfizados e ligados exclusivamente ao modo de ser dos humanos. O orixá
é justamente o elo entre as forças da natureza e o humano, que “religa e irmana a humanidade a si mesma e ao mundo da
criação” (ROSÁRIO, Claudia Cerqueira do. O
conceito de orixá. In Ítaca, n.
25, p. 22). De modo que, o culto dos orixás não é de ordem sobrenatural, como
se as divindades habitassem um além. Pelo contrário, nele “vivenciam-se as
forças que permeiam a criação em seus diversos níveis”. Isso significa dizer
que, para os nagôs, o ato da criação não está situado em algum passado remoto,
nem os orixás são deuses ociosos que assistem, em um além, o desenrolar da vida
dos homens. O espetáculo da criação se desenrola a todo o momento,
ininterruptamente; de modo que cada pessoa, cada árvore, cada animal, cada
pedra está sendo animada, sustentada, ou melhor, mantida viva, graças à
circulação do axé divino.
Para os nagôs, o orixá não está fixado em nada, não é, de
fato, coisa alguma. O orixá é uma força pura – o axé –, que está presente em
todos os seres. Essas forças, na origem dos tempos, se espalharam
diferenciando-se nas diferentes formas de vida, criando, assim, o mundo e,
desde então, perpetuam, a cada dia, essa criação. O axé, portanto, é o que há
de mais fundamental, de modo que sem ele não há vida – sem a sua circulação, o
mundo simplesmente degenera. Desse modo, para essa visão de mundo, não há
diferença hierárquica, grau de importância, entre nós, as árvores, os animais,
as pedras e tudo o mais que habita esse mundo. Todos somos filhos dos orixás,
pertencemos a uma mesma família cósmica, o que denota a dimensão ecológica
desse pensamento.
Para os nagôs, os mitos revelam todo um conhecimento
sobre o fundamento sagrado do mundo. Essas histórias nos contam a estreita
relação entre deuses e homens, a ponto de a divindade, em certos rituais, tomar
o corpo de um de seus devotos para consumar essa proximidade e partilhar com os
homens seu axé. Essa manifestação do divino no humano é o epicentro não apenas
de um ritual religioso, mas de todo um aprendizado da dimensão oculta da
realidade, por meio da qual o homem compreende o fundamento do mundo, tornando-se,
assim, seu guardião. Tal experiência promove no homem a compreensão da
necessidade de responsabilizar-se pela vida, demandando a excelência de suas
ações e comportamentos. No entanto, é próprio da força a sua dissipação, por
isso o axé precisa ser plantado, cultivado, conservado. O poder, para continuar
poderoso, necessita ser continuamente revigorado no tempo, realimentado, senão
passa e não circula mais. Por isso a grandeza de quem traz dentro de si o vigor
da divindade. Junto a essas pessoas nos aproximamos e podemos vislumbrar o que
é ser no extraordinário.
Assim são grandes aqueles filhos e filhas de santo, que
transitam entre o humano e o divino. Exemplos de grandeza e dignidade de quem cuida
do fundamento sagrado do mundo. No êxtase do transe, o corpo é tomado por uma
força que vem de dentro do coração e, assim, experimenta uma outra pulsação, um
outro ritmo, um estado de máxima intensidade da força vital, cuja grandeza
extravasa no olhar, nas feições do rosto, na gestualidade dos movimentos. Nesse
momento, já não é mais o indivíduo particular, mas sim o òrìsà que age através de seu corpo. Nesse instante, tudo é divino, como convém ao real.
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